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sexta-feira, junho 02, 2006

Dias internacionais, mundiais, europeus...

Nos últimos anos aparecem dias de tudo e de mais alguma coisa e todos os dias (às vezes o mesmo dia é dia de mais que um tema).
Se considerar que os primeiros “dias de” a aparecer tinham encerrados em si um fundamento - a defesa de direitos de quem padecia da falta dos mesmos – e que ainda hoje o critério de criação é esse (que nem sempre me parece ser), esta questão pode ser vista de duas formas: ou existem mais “temas” a necessitarem de ser lembrados/defendidos ou as pessoas começam a estar sensibilizadas para mais assuntos (esta última não me convence).
O que me parece é que, tal como no Natal (que devia ser todos os dias) muito se diz e nada se faz. Quer dizer até se faz - vende-se e compra-se mais.
Eu sei que posso estar a ser amarga e até injusta mas para mim o dia da mulher, por exemplo, não é, propriamente, o dia indicado para as amigas se juntarem e saírem todas porque nesse dia lhes é permitido (como se lhes dissessem “pronto, coitadinhas, hoje é o vosso dia vão lá fazer das vossa”), isto na nossa sociedade. Isso, devem fazer o resto do ano. Eu não gosto desse dia, porque apesar de muita coisa já ter mudado me lembra que ainda assim as oportunidades que tenho em relação aos homens não são as mesmas, que ainda esperam das mulheres coisas que não as deixam disfrutar da vida tal como os homens disfrutam delas. Mas faz-me lembrar ainda mais que há mulheres, algumas crianças ainda, que são obrigadas a casar com homens que podiam ser seus avós, que se se negarem são postas na rua pelos pais; que existem mulheres que pelo simples facto de o marido desconfiar que ela é adúltera a pode levar à morte; que há mulheres que são violadas pelos próprios maridos; que há países onde isso se passa e que estão em vias de pertenceram à mesma comunidade europeia a que eu pertenço e que a cada passo abre a boca para falar em direitos humanos. Mas nós por cá nesse dia saímos contentes à rua para festejar o dia que nos lembra, porquê? Porque temos mais sorte do que estas mulheres? Não, como dizia uma amiga minha não somos nós que temos sorte - são elas que têm azar.
O dia da criança é o dia que lembra que as crianças têm direitos e que estes têm que ser cumpridos. Felizmente, grande parte das nossas crianças sai à rua e diz que gosta de ser criança e que não quer crescer porque ser adulto é uma seca. Para as nossas crianças é um dia feliz, e ainda bem, é bom sinal. Mas por altura de comprar às nossas crianças uma bola, umas sapatilhas, uma t-shirt de marca conhecida, não nos interessamos em saber se foram feitas com o trabalho de uma criança da mesma idade ou mais nova em trabalho como escravo. Não queremos pensar nisso. Nesse dia talvez nos possam lembrar que nem todas as crianças têm direito de o ser e nós até dizemos “coitadinha, tão pequenina”, mas o resto do ano não nos importamos e não nos compete a nós mudar o mundo. Então a quem compete?
Eu sei que posso estar a ser amarga e até injusta, volto a frizar, que talvez em tempos tão difíceis em que há tanta coisa má para lembrar talvez não devesse lembrar mais coisas ruins, mas não consigo evitar ficar revoltada com tanta falsidade, com tanto fingimento, com tanta indiferença, quando de facto até há qualquer coisa que pode ser feita: Mas de momento ao país nada importa pois está parado à espera que mundial de futebol seja el rei D. Sebastião há tanto esperado que o venha tirar desta profunda crise, mas isso já é outra história.

1 Comments:

Blogger Nós_os_Três e a Carrapa said...

Texto amargo, embora verdadeiro! De facto as coisas são mesmo assim, mas há certos pontos nos quais nao pude evitar discordar.. De facto, hoje em dia, falar-se de exploração infantil parece um pouco absurdo, visto que estamos num tempo onde todos têm direitos e devem usufruir deles, mas, infelizmente, este problema é ainda uma triste realidade.
Por outro lado, acho muito bem que o Dia da Mulher seja uma desculpa para as mulheres se desligarem dos filhos, dos maridos, do trabalho, das suas vidas rotineiras e carregadas de tudo, menos de lazer. Nem todas as mulheres têm a liberdade que desejam para o fazer.
Embora muitos "dias internacionais, mundiais, europeus..." sejam um verdadeiro golpe comercial, outros não devem perder o seu verdadeiro significado, embora muitas vezes este seja deturpado.
De facto, o mundo em que vivemos não é perfeito, tal como já não o era há mil anos atrás e tal como não vai ser daqui a mil anos. O homem é um ser imperfeito e compete a cada um de nós mudar o que achamos que devemos mudar. Nada mais há a fazer. Também não penso que nos devamos martirizar porque esta ou aquela injustiça ocorre ali ou acolá. É triste sim, mas a vida não pára. É duro, mas é mesmo assim. Se pararmos sempre que algo de mau acontece, quando nos apercebermos, já é tarde demais para viver!
Sinto-me cruel ao dizer isto, mas é o que penso. Não somos super-heróis, não podemos mudar o mundo pois ele foi, é e vai ser sempre imperfeito.


N.O.T.

3/6/06 13:16  

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