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sexta-feira, novembro 11, 2005

CERTEZAS e DÚVIDAS

Uma altura vi um programa, já não me lembro sobre o que era, lembro-me apenas da frase com que o apresentador terminou: “eu não quero ter certezas, quero ter sempre dúvidas. São as dúvidas que fazem ter sede de querer saber sempre mais, de aprender sempre mais. Por seu lado, são as certezas que fazem as guerras”. As palavras não seriam bem estas, mas foi isto que percebi que ele queria dizer. Se pensarmos bem, de facto, é a certeza de que em determinado país os direitos humanos estão a ser violados e que se produzem armas nucleares, e do outro lado a certeza de que não estão a ser violados nem se produzem, que faz com que dois países entrem em guerra. (ou será a certeza de ambos os lados de que o petróleo vale muito dinheiro e os direitos humanos não valem de nada? Já não me lembro - não tenho a certeza).
É verdade o que ele disse, mas é difícil viver sem certezas. Eu sou eu e as pessoas sabem o que esperar de mim (mal ou bem) porque vivo tendo determinadas certezas (valores) que me foram passadas e outras que fui aprendendo a defender. Serão de certeza diferentes de outras pessoas. Algumas serão tão fortes que me farão não querer ter qualquer tipo de relacionamento com quem pensa diferente (como com o meu vizinho caçador que eu simplesmente não suporto, mas ainda assim cumprimento a custo).
Mas por vezes questiono as minhas certezas, não porque ache que estão erradas (nós não queremos pensar que aquilo em que acreditamos esteja errado, senão a nossa vida deixa de fazer sentido - pelo menos algumas das nossas certezas). Por exemplo, a semana passada vi outro programa sobre as mortes por armas nos estados unidos. O senhor que estava a fazer a reportagem queria provar que as onze mil e muitas mortes todos os anos por armas se devia ao facto de a 2ª emenda da constituição americana dizer que toda a gente tem direito a ter uma arma. Contudo, apesar de todos os anos parentes de quem morre (pais de crianças e adolescente incluídos) virem pedir para modificarem essa lei ela não muda. A economia do país assenta na produção e venda de armamento – por isso é que eles fomentam as guerras e andam sempre em guerra – por isso têm que arranjar outros motivos, que não a venda livre de armas que sejam responsáveis por tantas mortes:
- “Nós temos muita pobreza” (numa cidade do outro lado do rio, no Canadá, existem o dobro de desempregados e não se lembra da última vez que morreu alguém morto a tiro – no Canadá existem cerca de trinta mortes por armas por ano);
- “Nós temos mais negros” (do outro lado do rio há mais negros que brancos e …” acho que morreu um há muitos anos, mas…”);
- “ Os nossos jovens vêm mais filmes violentos”( do outro lado do rio os jovens estão sempre à espera do último filme violento de Hollywood -quanto mais violentos melhores e os jogos têm que ser o mais violentos possível);

- "A culpa é da música do Marilyn Mason" (ele diz que gostava de ser assim tão importante, mas o presidente dos EUA ainda é mais do que ele);
- …
E a lista de desculpas esfarrapadas continua por aí abaixo. Não lhes dizem que o governo fomenta a política do medo para que eles comprem armas. Inclusive o número de crimes diminui nos últimos anos mas as pessoas compram cada vez mais armas porque andam sempre com medo.
O apresentador (branco) foi a uma rua onde diziam que um branco não podia ir que era logo morto. Ele foi lá com um pai (branco) de um dos miúdos que foi morto naquele massacre feito por dois rapazes (brancos) numa escola. O pai é um dos que quer que se modifique a lei e recolhe provas de que de facto é a venda livre de armas e a política do medo as responsáveis por tão elevado número de mortes. Então eles chegaram lá e não lhes aconteceu nada e a conclusão que eles tiraram é que era uma zona tão pobre, tão cheia de poluição (não se conseguiam ver as placas de sinalização) que não interessa é que o país tome conhecimento do que lá se passa. Nessa mesma rua nesse momento começam a sobrevoar helicópteros da polícia. Eles encaminham-se para o local onde supostamente estaria a ocorrer alguma coisa. Um polícia disse -lhes que tinha sido um roubo, outro, outra coisa e outro que não tinha sido nada – ou seja de vez em quando fazem lá aparatos policiais para de facto acreditarem que é uma zona perigosa. Na televisão há um programa (reality show) com muita audiência onde os polícias andam atrás de criminosos (negros). Pelos vistos se não forem negros não tem tanta audiência.
CONCLUSÃO: acredito que muito daquilo em que acredito seja resultado de uma lavagem cerebral como a que fazem aos americanos. Contudo, quando questiono as minhas certezas o que me faz continuar a adoptá-las como minhas é a certeza que jamais conseguiria ter um coelho solto no quintal para atiçar/ensinar os cães mais novos a caçar; ou tratar mal um toxicodependente porque a vida dele já é desgraçada o suficiente - não precisa que eu o ajude a tornar ainda mais desgraçada –; ou a defender uma guerra seja qual for o seu motivo – nós não somos racionais? Não somos a espécie mais inteligente à face da terra? Então encontrem outras formas.